terça-feira, novembro 26, 2013

Jeam Paul Prates: O RN cochilou em relação às eólicas”

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Diretor-presidente do CERNE, Jean-Paul Prates, analisa desempenho do Rio Grande do Norte apos leilão de energia realizado no dia 18 de novembro. Prates também anuncia lançamento de sindicato para recuperar setor energético no estado.
LEIA A MATÉRIA COMPLETA, AINDA EXISTE ESPERANÇA PARA O RN NO SETOR.

O Rio Grande do Norte foi líder em negociar energia eólica em anos anteriores, mas no leilão que o governo federal realizou na última segunda-feira (18) o estado não conseguiu emplacar nenhum dos 71 projetos que havia habilitado. Para o ex-secretário de energia, Jean-Paul Prates, o resultado expôs fragilidades do Rio Grande do Norte e foi consequência de um “cochilo” do governo do estado. Nesta entrevista, ele aponta gargalos enfrentados pelo setor, diz que há “intranquilidade” por parte dos investidores e ressalta que a indústria de energia não pode ser tratada como qualquer investimento. “Deve ser tratada de forma especial”, diz. Como resposta ao desempenho potiguar no leilão, as empresas do setor acabam de lançar oficialmente o Sindicato das Empresas do Setor Energético do RN (SEERN).  “É uma reação à altura, de parte da classe empreendedora, para defender e aprimorar cada vez mais o ambiente de investimentos e operações no setor energético aqui no Estado”, diz Prates, que vai presidir a entidade.  O sindicato, que reúne gigantes como Petrobras, Wobben, Eletrobras e CPFL Renováveis, pretende realizar um diagnóstico do setor e ”tranquilizar” os investidores sobre a situação das linhas de transmissão, que são de responsabilidade da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf) e atrasaram, impedindo o escoamento da energia. A falta de garantia dessas linhas é apontada como uma das razões do insucesso do RN no leilão passado. Um novo leilão está agendado para o dia 13 de dezembro. Para Prates, há a expectativa de que o estado alcance um desempenho mais positivo. 



O Rio Grande do Norte teve um resultado, na sua própria opinião, lastimável no último leilão de energia, realizado na última segunda-feira. O que ocorreu? Onde o Estado errou?

O erro talvez tenha sido o governo do estado não cobrar a Chesf na hora certa. A Chesf – responsável por instalar linhas de transmissão no RN - talvez tenha precisado de assistência. Talvez tenha pecado em não pedir ou até tenha pedido, mas não tenha recebido. A gente não sabe. O que eu posso dizer é que em 2011, 2012 houve um cochilo. Houve mesmo. O pessoal cochilou. Parou de falar no assunto por alguma razão. Quem tava lá imaginou: “está tudo bem. Deixa rolar que isso se resolve por si só”, mas não estava bem. Quando digo que o setor exige acompanhamento o tempo todo, é porque a todo o momento surgem probleminhas. Toda hora o governo tem que estar ajudando, porque esse é um setor fundamental. Se a gente fosse São Paulo ou mesmo o Espírito Santo que tem várias atividades econômicas investindo ao mesmo tempo, mas não somos. Então a gente precisa tomar conta pelo menos dos poucos que se dignam a vir aqui. Ah, são os ventos que atraem os investidores? Fique esperando os ventos que você vai ficar falando sozinho. Está aí o resultado. O vento do RN acabou? Não, está aí. E porque o resultado do leilão foi zero? O governo federal não é o mesmo? É. Então é muito rápido e lógico o raciocínio. Se o governo federal é o mesmo, se os ventos são os mesmos, e eu zerei o leilão, mas era o campeão, é porque tem algo errado comigo. Repito, 2011 e 2012 foram dois anos de parada total. E aí quando o atual secretário de Desenvolvimento Econômico assumiu foi aquele Deus me acuda da Bioenergy anunciando que ia transferir os parques do RN para o Maranhão. 

De quem é a culpa pelo resultado no leilão?
Foi do Governo do Estado. As pessoas dizem que o governo federal teve culpa por que leiloou as linhas de transmissão a posteriori, mas isso já estava previsto. A gente sabia que era assim. Na época eu disse: “desse jeito, a gente vai tirar o RN da competição em 2013”. Não deu outra. Era óbvio. 

A Bahia, assim como o RN, enfrenta problemas de escoamento de energia e tem parques parados, mas ainda assim conseguiu negociar vários parques no último leilão. Por que a Bahia conseguiu?
Enquanto em 2011 e 2012, a gente estava parado, a Bahia pegou tudo o que a gente fez e replicou. Eles também conseguiram apoio irrestrito do governador da Bahia, Jacques Wagner, que aliás esteve presente os dois fóruns eólicos que realizamos e o governo do RN nunca apareceu. Ele inclusive pediu para que realizássemos o fórum lá. No de 2013, estavam presentes o governador da Bahia, o vice-governador e mais quatro secretários de estado. O cara (o governador da Bahia) abraçou realmente o setor, e olhe que a Bahia é um estado que tem outros setores para se preocupar. E nós só temos esse, somos líderes nacionais, e nos demos ao luxo de ficar cochilando dois anos.
 
Em dezembro, o Governo Federal realizará um novo leilão de energia. Qual sua expectativa? O RN corre o risco de não conseguir negociar nenhum parque de novo?
O A-5 dá mais tempo para o investidor, que terá quatro anos para instalar o parque, diferente do leilão A-3 que ocorreu este mês e determinava que os parques fossem instalados em dois anos (porque foi realizado no final do ano). Tenho certeza que teremos projetos vencedores.

Só pelo fato do investidor ter mais tempo para instalar os parques?
Não. A gente fundou um sindicato para defender os interesses do setor e acredita que o  trabalho do sindicato surtirá efeito até lá.

Porque fundar um sindicato?
Antes é preciso esclarecer que não se trata de um movimento político, de um movimento contra ninguém, nem é uma reação contra o governo. O projeto já estava sendo gestado e a gente achou que lançá-lo agora seria uma grande resposta que o Rio Grande do Norte daria ao país e as empresas depois do último leilão. A ‘intranquilidade’ do investidor vem da falta de informação, na maior parte das vezes, ou da certeza que determinada coisa não funciona. Mas o RN foi campeão nacional em leilões anteriores. Não é possível que de um dia para o outro se torne um inferno. Era um céu e virou um inferno? Não. Houve alguma coisa que colocou dúvida na cabeça do investidor. Mas é dúvida. O potencial eólico do RN não acabou. O sindicato vai trabalhar, nesse primeiro momento, em duas frentes. A gente não tem muito o que fazer até o leilão A-5 (em dezembro). Só dá tempo de ligar para as empresas e procurar saber o que está acontecendo, porque não negociaram os projetos no último leilão. Depois do leilão aí sim. Vamos fazer um diagnóstico do setor. 

O que se espera com esse contato inicial com as empresas?
Ouvir os problemas e encaminhar as soluções. A gente quer saber o que tem preocupado as empresas e dizer o que está sendo feito. 

Mas isso trará um resultado já a curto prazo?
Sim, porque vamos tranquilizar os investidores. Vamos dizer, com relação às linhas de transmissão, que esse processo está equacionado. Que em 2014 e 2015 o estado ganhará novas linhas de transmissão. Os investidores não colocaram os preços que podiam no último leilão, porque atribuíram um risco maior ou um custo maior a alguns fatores que irão melhorar.

O sindicato já tem associados?    
Já tem 13 grupos empresariais associados, tanto nacionais quanto internacionais. Tem a Petrobras, a Bioenergy, Eletrobras, Woben, a CPFL Renováveis, entre outras.

Quanto o sindicato terá de orçamento para subsidiar suas ações?
Eu não sei se podemos estimar o valor neste momento.

Que pontos principais o Sindicato vai defender e como atuará?
Resumindo, vamos defender os interesses da classe empresarial ligada ao setor de energia. Defender o ambiente de negócios. A gente quer que a indústria de energia seja realmente encarada com a força que ela tem. Um investimento de R$ 10 bilhões num estado com o RN não pode ser negligenciado, não pode se tratado como qualquer investimento, deve ser tratado de uma forma especial. Hoje ser bem tratado é uma exigência do setor. Imagina quando começarmos a atrair fábricas para o RN. Indústrias de Petróleo e Energia geralmente puxam investimento, alavancam investimento que acaba beneficiando todo mundo.

Como você enxerga o setor energético no RN? Continua com essa força à qual você se referiu?
Afora alguns percalços, a eólica está consolidada. Com relação à solar, há outras coisas que precisamos pensar. Qualquer coisa que ajude a solar a reduzir o seu custo antes do início da operação ajuda tremendamente na competitividade da tarifa.

Diferente da energia eólica, a energia solar ainda não tem um preço competitivo. Quando você acredita que a fonte se tornará mais barata e poderá competir com outras fontes de energia nos leilões?
Eu acho que ainda leva dois ou três anos para atingir o mesmo patamar da energia eólica e hídrica, as mais competitivas. Ao mesmo tempo que a solar baixar de preço, a eólica vai subir um pouquinho, por que as melhores áreas já estão sendo ocupadas, equipamentos precisarão ser trocados.
 
A competitividade da energia solar depende de quê?
Basicamente de tecnologia.
 
A carência de linhas de transmissão é o único obstáculo do setor ou há outros?
Não ter um porto fora da capital é um obstáculo. Sem ele, não dá para atrair fábricas de grandes equipamentos. Também há fatores críticos, que precisam ser acompanhados. Mas não podemos pensar só em parques. Precisamos pensar nas indústrias. Não consigo aceitar a ideia de que as indústrias não vem para cá porque preferem ir para a Bahia ou Pernambuco. Elas só estão indo para lá, porque lá tem alguma coisa que aqui não tem. A primeira coisa que suspeito é obviamente o porto. 

O Sindicato estima que os parques que serão instalados até 2016 consumam cerca de R$ 10 bilhões em investimentos. Gostaria de saber se existe um novo polo de investimentos em eólica ou os parques ainda estão se concentrando na área próxima a Parazinho e João Câmara.
Está se espalhando um pouco mais. 

O fato de muitos projetos se cadastrarem para os leilões e poucos serem contratados é negativo? Mostra que o mercado não está tão comprador? Que os projetos não são tão bons?
Não, isso é normal. 

Isso não significa que há pouco espaço para eólica?
Não, só se compra o que está sendo demandado pelas distribuidoras de energia. Os projetos que sobram ficam para os outros leilões. O potencial do RN é pelo menos três vezes maior do que o que já foi explorado. 

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